No domingo de Pentecostes de 2013, o apóstolo maior Wilhelm Leber entregou a liderança da Igreja Nova Apostólica Internacional e a responsabilidade por mais de dez milhões de cristãos novos-apostólicos ao atual apóstolo maior Jean-Luc Schneider. Depois de oito anos de ministério, o apóstolo maior foi aposentado. Aproximadamente vinte semanas depois, o dirigente supremo da Igreja faz uma retrospetiva e um primeiro apanhado do seu tempo enquanto reformado.
Na primeira parte da entrevista, o apóstolo maior e. d. Wilhelm Leber fala sobre a mudança que a cessão das suas funções acarreta a nível pessoal, descreve como vivencia os serviços divinos como simples membro da comunidade, dá informações sobre os seus planos como reformado e revela os temas que abordaria se ainda estivesse na ativa.
Apóstolo maior Leber, à entrada do seu escritório encontram-se cartões de mudança dobrados. Um sinal em como está aposentado. Mas, ao mesmo tempo, um sinal em como ainda nem tudo está resolvido. Que tarefas irá continuar a exercer como reformado?
Em primeiro lugar, houve trabalhos – e continua a havê-los – que só surgiram depois de eu ter sido aposentado. Por exemplo, alguns irmãos e irmãs de fé escreveram-me por ocasião da minha colocação em descanso e alguns até me enviaram alguns pequenos presentes. Já respondi e ainda vou continuar a responder a esses irmãos e irmãs. Para além disso, também recebo e-mails e cartas de pessoas que não me escreveram enquanto estive ativo no ministério, pois acham que agora já tenho tempo para responder às suas perguntas (ri-se). Também ainda existe o trabalho do meu grupo de projeto que terá de continuar. Portanto, continuo a trabalhar no grupo de coordenação por incumbência do apóstolo maior e, além disso, também me continuo a ocupar com os pensamentos essenciais para o serviço divino. E, de vez em quando, alguns grupos de projeto ainda me perguntam se posso assumir uma ou outra tarefa. Com veem, ainda vou tendo que fazer (ri-se). Mas estou contente por assim ser, pois são coisas que eu gosto de fazer.
Já sabe quando é que esses trabalhos irão terminar?
Sim, grande parte deles vai terminar no final do ano.
Até lá, o que é que isso significa concretamente para o seu dia-a-dia de reformado: em quantos por cento ainda é apóstolo maior e em quantos por cento já está realmente aposentado?
É difícil de dizer. Assim por alto, penso que ainda emprego um quarto do meu tempo para o trabalho da Igreja. E o resto do tempo é para a minha vida privada.
Essas proporções correspondem às expetativas da sua esposa? Ou acontece como com o comediante Loriot: «desculpa, esta é a minha primeira reforma. Ainda estou a treinar.»
(Ri-se) não, em geral a minha esposa concorda. Só que, como muitas vezes acontece, as coisas vão-se acumulando. E ela espera de mim que eu ajude mais nas tarefas domésticas ou que, de vez em quando, saia com o cão, o que antes era inteiramente impossível.
À partida parecem pequenas coisas. E o que no filme do Loriot parece ser muito engraçado, é para muitos reformados, bem como para as famílias um verdadeiro desafio: a transição para a reforma e as transformações que daí resultam como, por exemplo, as mudanças que a cessão das suas funções acarreta e a falta dos «momentos de sucesso» habituais. Como lida com isso?
Tenho de dizer que não tenho qualquer problema com isso. No momento em que fui aposentado – e é isso que ainda hoje sinto –, fechei uma porta. E ficou fechada. É lógico que faço com agrado o que ainda há para fazer. Mas estou feliz por agora poder aproveitar, todos os dias, o tempo de uma forma mais descontraída. Sobretudo, sinto-me feliz por não ter a pressão de ter de cumprir prazos e horários. Há coisas que podem ficar para o dia seguinte. Aprecio muito esta forma descontraída de lidar com as tarefas.
Nem todos os reformados o conseguem, independentemente das funções que exerceram. Segundo a opinião de alguns cientistas, o mais fácil e o melhor seria trabalhar até uma idade mais avançada e, em contrapartida, fazer pausas enquanto se é jovem, ou seja, um ano sabático. Qual é a sua opinião a este respeito: um apóstolo maior ou, em geral, um apóstolo tirar um ano sabático?
Devo dizer que não consigo imaginar que isso funcione. Muito embora fosse uma questão a investigar mais detalhadamente, caso houvesse alguma situação específica em que um apóstolo o desejasse mesmo. Mas, em termos gerais, acho isso muito difícil. Estamos envolvidos em tantos processos, assistimos constantemente a reuniões, temos de tomar inúmeras decisões... Um afastamento por completo e durante tanto tempo é bastante teórico.
Para si também já só é teórico, mas para outros será real no futuro: em 2029, a idade de reforma só começará a partir dos 67 anos. Imagine que esta lei tivesse entrado em vigor 16 anos mais cedo, o que significaria que ainda tinha dois anos de ministério pela frente. O que faria até 2015 como apóstolo maior?
Estou a pensar no catecismo. Com a publicação do catecismo demos um passo importante. Mas agora surgem questões que terão de ser abordadas sob a liderança do novo apóstolo maior. Entre outros aspetos, a ministeriologia, ou seja, a forma como interpretamos o apostolado hoje. É evidente que foram dadas explicações a esse respeito no catecismo, no entanto, isso pode e deve ser aprofundado. E isso seria, certamente, um assunto importante que eu teria de tratar se ainda estivesse ativo no ministério de apóstolo maior. Mas como não é esse o caso, sei que o assunto está bem entregue nas mãos do nosso novo apóstolo maior Jean-Luc Schneider.
Até 2015 teria feito – segundo a média anterior – por volta de cem viagens, entre elas, 30 de longa distância. Quantas estão planeadas, nesse mesmo período de tempo, como reformado?
Nenhuma viagem de longa distância. Só faria uma viagem longa se estivesse planeado algo de especial, como uma ordenação de um novo apóstolo de distrito ou atos de bênção que envolvam casais com os quais eu tivesse uma ligação pessoal. Nesse caso, gostaria de estar presente. Caso contrário, fico contente por poder ficar em casa. Viajar exige um grande esforço. E eu noto que me está a fazer muito bem o facto de não ter de fazer mais viagens longas.
O que é que nos pode dizer sobre os seus planos futuros como reformado? Vai escrever um livro ou, olhando para a sua formação académica e profissional, voltará a ocupar-se com a matemática? E quais são a tarefas que pretende assumir a nível da sua comunidade?
Na minha comunidade, por enquanto, comporto-me com cuidado. É uma comunidade muito bonita, sem dúvida, mas eu quero, em primeiro lugar, conhecer bem os irmãos e irmãs – ou voltar a conhecê-los. Alguns deles já os conheço de antigamente, mas entretanto já se passaram algumas décadas e, como é evidente, muita coisa aconteceu na comunidade. Portanto, estou a tentar aproximar-me novamente de todos, procurando a comunhão, no entanto, no início não me quero envolver nas tarefas oficiais. Em vez disso, estou ativo e dou apoio no círculo da terceira idade. Nesse círculo, por exemplo, apercebi-me de que os eventos da terceira idade praticamente só são frequentados por mulheres. Por conseguinte, vou tentar ativar os homens. Entretanto, até já se está a começar a ver algum sucesso (ri-se).
E em relação às suas atividades de reformado e aos planos fora da comunidade?
Gosto de me ocupar com a música e aproveito o piano e o pequeno órgão que temos em casa para tocar. Nos últimos anos tive pena de não ter tido tempo para o fazer. Mas, agora, quero continuar a fazê-lo, avivar as capacidades do passado, mas só para mim, a nível privado. Não quero necessariamente ligar isso às tarefas eclesiásticas.
Voltando às suas novas experiências comunitárias: como se sente ao assistir aos serviços divinos sem ter de pregar?
Muito descontraído (ri-se). Posso mesmo dizer que saboreio cada serviço divino. Já começa pelo facto de agora me poder sentar ao pé da minha esposa. Logo no primeiro serviço divino a que assisti na comunidade ela mostrou-me onde era o lugar dela e, como dá para perceber, onde seria agora também o meu. Por isso, fico ali sentado, alegro-me com o canto do coro e, depois do serviço divino, fico com a minha esposa para tomarmos um café, como é hábito na nossa comunidade. Portanto, tanto quanto posso dizer de mim próprio, agora sinto realmente que estou aposentado. E depois dos serviços divinos vou sempre satisfeito para casa.
Durante a prédica lembra-se, de vez em quando, dos pensamentos essenciais para o serviço divino que, em parte, foram escritos por si próprio alguns meses antes?
É óbvio que isso acontece. Muitas vezes assim que é lida a passagem bíblica. Aí eu lembro-me: olha, com este versículo já oficiei um serviço divino! Mas normalmente não me lembro do que disse na altura. Nem dos pensamentos essenciais que escrevi me lembro. Por conseguinte, estou aberto para a prédica. E sinto que cada serviço divino tem algo de novo. Não tenho, de forma alguma, a impressão de que alguma prédica seja repetida, que eu já a conhecesse antes. E quero ainda acrescentar algo a esse respeito: tento interpretar cada serviço divino como se fosse dirigido a mim. A minha tarefa não é questionar o que talvez se pudesse fazer melhor, o que se poderia formular melhor ou algo parecido. Não, eu fico feliz por ver que os ministros pregam com autenticidade.
Por outro lado, posso imaginar que os ministros, talvez os sacerdotes mais novos, se dirijam a si para terem o seu feedback. Isso acontece?
Não, até à data ainda ninguém o fez. É possível que por enquanto ainda haja um certo acanhamento. No início, esse acanhamento fez-se sentir. Entretanto, já não é tanto assim. Normalmente, temos uma conversa muito breve quando agradeço aos ministros pelo serviço divino, muito concretamente pelos pensamentos que me tocaram em particular. Eles assim ficam a saber aquilo que especialmente me tocou.
Existem pontos que não o tocam? Costuma dizer aos autores dos pensamentos essenciais quando nota que falta a linha de orientação no artigo. Também reconhece, aqui e acolá, nos serviços divinos, que falta essa linha?
Os serviços divinos são diferentes uns dos outros. Também notamos que os talentos são diferentes. Uns conseguem interpretar e explicar a palavra da Bíblia de forma brilhante, apresentá-la de uma forma sistemática, outros têm dificuldades. Mas cada um tem a sua própria forma de atingir os corações dos membros da comunidade. Mesmo quando o texto bíblico não é muito bem explicado, eu levo, de qualquer forma, algo do serviço divino. Existem sempre pensamentos que me fascinam ou que me dizem algo para a minha situação pessoal e me ajudam a caminhar em frente. Portanto, seja como for que a prédica se desenvolva, eu levo sempre algo do serviço divino.
Mas também não está sempre em todos os serviços divinos na sua comunidade. Às vezes é convidado para serviços divinos do apóstolo maior ou do apóstolo de distrito. Segundo a tradição, os apóstolos aposentados vestem-se da mesma forma que os ministros ativos, ou seja, fato preto, gravata preta e camisa branca. Porque é que é assim? E porque é que os ministérios sacerdotais aposentados não têm de se vestir da mesma forma?
É uma boa pergunta, porque é que é assim? Eu penso que se trata de uma tradição. Porque, antigamente, os apóstolos aposentados também iam para a sacristia antes do serviço divino, o que entretanto já não acontece. No entanto, a tradição do vestuário manteve-se. Mas, basicamente, não há nenhuma razão concreta para os apóstolos aposentados irem vestidos de preto e branco. Não tem nenhum significado profundo, é simplesmente um hábito que se tornou comum. Eu, pessoalmente, gosto de vestir os meus fatos pretos para esses serviços divinos especiais. O que é que hei de fazer com esses fatos? (ri-se)
Não é um pouco estranho, para alguém que durante 43 anos sempre vestiu fato preto para os serviços divinos, agora, de repente, de um dia para o outro, vestir um fato de outra cor? Como foi no primeiro serviço divino, na sua comunidade, depois de ter sido aposentado? Lembra-se que cor tinha a sua gravata? E do que sentiu ao estar sentado na igreja com um fato de outra cor?
Bem, da gravata já não me lembro. Mas sei que vesti um fato azul (ri-se). É claro que quando me sentei no banco da igreja senti uma sensação estranha. Mas essa sensação estranha depressa se transformou em alegria pelo facto de estar aposentado e poder passar a ser um membro normal da comunidade.
Na segunda e última parte da entrevista, o apóstolo maior e. d. Wilhelm Leber conta-nos como no passado a sua responsabilidade ministerial aumentou rapidamente, qual foi o seu encargo ministerial preferido e também revela quem é que no círculo da sua família faz a oração à refeição. Já se habitou, entretanto, ao facto de assistir aos serviços divinos como um membro igual aos outros na comunidade? E acha que isso também teria sido possível entre os 20 e os 65 anos? Poderia imaginar uma vida inteira sem um encargo ministerial? A resposta à primeira parte da pergunta é sim: é algo ao qual nos habituamos depressa. Pelo menos comigo foi assim. E penso que os ministros também se vão habituando ao facto de eu estar sentado banco. Existe um comportamento normal de ambas as partes. Entretanto, já não se diz em público que eu, o apóstolo maior e. d., está ali presente. E é bom que já não se faça mais isso. Eu quero ser um irmão de muitos outros irmãos e irmãs. Em relação à segunda parte da pergunta, portanto, a uma vida sem encargo ministerial: eu fui ministro durante mais de metade da minha vida, por isso, é difícil dizer como teria vivido sem o ministério. Certamente teria tido outras perspetivas, teria organizado a vida de uma forma diferente. Mas isso é teórico. Especificamente, não posso dizer como a minha vida teria decorrido. Um encargo ministerial com todas as suas envolvências, é extremamente dominante, tem uma grande influência para a vida e para a forma como a organizamos. Recebeu quase todos os encargos ministeriais da Igreja Nova Apostólica uns a seguir aos outros. Só não foi pastor nem ancião de distrito. Gostaria de ter feito essas experiências em vez de ter passado tão depressa pela hierarquia ministerial? Entre a sua ordenação como evangelista e a ordenação como apóstolo só passaram quatro anos e dois meses… Se teria sido ou não necessário ter exercido os outros ministérios, não é a questão essencial. Mas, sem dúvida que achei que essa passagem foi demasiado rápida. Todos os graus ministeriais exigem muito da pessoa e requerem um determinado tempo de preparação. É necessário aprender determinadas coisas que estão ligadas ao respetivo ministério. Temos de cuidar da ligação com os irmãos e irmãs que nos são confiados. Trata-se de inspirar confiança, de ganhar a sua confiança, e isso por vezes demora. Por isso, muitas vezes fiquei com pena de uma tarefa ser substituída por outra tão rapidamente. Sim, gostaria de ter tido mais tempo. Independentemente do tempo que teve em cada uma das respetivas tarefas: qual foi o seu encargo ministerial preferido? Gostei da minha tarefa como dirigente de comunidade; no início como sacerdote e mais tarde como evangelista. Esta tarefa fascinou-me porque se pode ter um contacto muito estreito e direto com os irmãos e irmãs de fé na comunidade. É bonito ser a pessoa de confiança, poder dar conselhos, poder orar em conjunto e pedir a ajuda e a orientação de Deus. A isso estão ligadas muitas bonitas vivências. Tenho de dizer: esse tempo, como dirigente de comunidade, foi um tempo que eu não queria perder de forma alguma. A sua esposa diz que, para ela, o tempo mais bonito foi o tempo em que você foi evangelista de distrito, alegando que, como evangelista de distrito, o raio das comunidades a servir não era assim tão grande e podia ir todas a noites para casa. Também, olhando ao facto de na altura os seus filhos terem 12 e 14 anos, as observações da sua esposa mostram que ela teve grande compreensão pelas suas funções e tarefas como assistente pastoral da Igreja. Essa compreensão manteve-se? A minha esposa vem – e estes antecedentes são importantes - de uma família de muitos ministros. Por exemplo, o pai foi apóstolo de distrito. Por isso, ela conhecia, já desde muito cedo, as exigências associadas às tarefas ministeriais. É claro que na família também há muitas tarefas para executar que requerem a ajuda do marido. Mas, como ela sempre esteve e está ao meu lado, sempre me tem apoiado tanto quanto possível. Estou-lhe muito grato por isso. E, sem dúvida, que no tempo em que fui evangelista de distrito funcionou mesmo bem. Tal como ela disse, nessa altura estava sobretudo ativo no círculo da própria comunidade, o que normalmente é bom de gerir, principalmente quando a esposa vê isso de forma positiva e dá o seu apoio. E se às vezes precisava de mais tempo para a família, sempre tive a compreensão tanto dos ministros responsáveis como dos irmãos e irmãs. É lógico que à medida que as responsabilidades na Igreja vão aumentando se torna mais difícil definir corretamente as prioridades. Já só pelo facto de estarmos muitas vezes sozinhos em viagens, ou seja, sem a família. A minha esposa muitas vezes não me acompanhou nas viagens, em parte por causa dos filhos. Para ela sempre foi importante ter ligação com a comunidade. Isso significa que passávamos pouco tempo juntos. No entanto, penso poder dizer que tudo correu bem – por um lado, devido à compreensão mútua e por outro porque eu, de vez em quando, tirava um dia livre para fazer algo com e para a família. É necessário fazer uma certa ginástica, mas tenho a sensação de que os meus filhos não tiveram nenhuma falta a esse nível. O que diz às famílias dos assistentes pastorais que não conseguem ou que têm dificuldades em ter tanta compreensão como a sua esposa? Não é possível dar uma resposta genérica a essa pergunta. Cada família terá de procurar o seu próprio caminho. O importante é a compreensão dos ministros superiores. É bonito se eles por vezes disserem: olha, fica em casa, faz algo por ti e pela tua família! Há sempre assuntos pastorais importantes, mas também há tarefas que se podem adiar ou reduzir e assim consegue-se arranjar tempo para a família. E, por fim, não podemos esquecer que cremos que o tempo que investimos na obra de Deus está sob a bênção de Deus. Mas não interpretem mal: eu advirto para que não se facilite pensando que se pode negligenciar constantemente uma ou outra coisa porque no fim tudo dá certo. Temos de fazer a nossa parte para que a família permaneça intacta e seja feliz. Mas é óbvio que, enquanto marido e pai, também teria gostado de passar mais tempo com a sua família do que na realidade lhe foi possível. Acha que vai recuperar uma parte desse tempo agora, como reformado? Os seus filhos moram muito perto. Não, esse tempo não pode ser recuperado, o que passou, está passado. Entretanto, os meus filhos já atingiram uma idade em que se tornaram independentes há muito tempo e têm a sua própria família e o seu círculo das suas amizades. Portanto, é bom mantermos contacto e termos, de vez em quando, tempo uns para os outros. Mesmo na altura em que estava ativo como apóstolo maior, quando estava na administração em Hamburgo, encontrava-me de vez em quando com os meus filhos para almoçar, sinalizando com isso que quero ter uma vida em comum com eles, que farão sempre parte da minha vida, que tenho grande interesse em saber o que pensam, o que querem e o que se passa de momento na vida deles. Isso tem funcionado. Devemos sempre procurar maneiras de manter e de promover a vida familiar. A propósito de vida familiar: permite-me que lhe pergunte quem é que agora, depois de ter sido aposentado, faz a oração quando fazem uma refeição em família? Por exemplo, quando a sua filha e o seu genro, que é pastor, os visitam? E o que pensa do facto de, regra geral, a hierarquia dos ministérios se refletir na prática da oração familiar? Sim, é uma prática comum que nas famílias e noutras reuniões a maior parte das vezes o ministro “mais graduado” seja aquele que faz a oração. Conhecemos isso dos serviços divinos e transportamo-lo para a vida quotidiana. Não precisaria de ser assim, mas de certeza que isso acontece muitas vezes, para evitar grandes discussões. Eu, pessoalmente, acho que os ministros ativos devem esclarecer isso entre eles. De qualquer forma, eu não acho que, em grandes círculos, me compita a mim fazer a oração. Mas, quando não chegam depressa a um acordo, então faço eu (ri-se). Não é nenhuma lei rigorosa, cada um pode fazer como quiser. E quando estamos juntos em família, então fazemos como naquele momento se proporciona: às vezes ora o meu filho, outras vezes o meu genro e eu também oro. Não há regras para isso, estamos à vontade – depende da situação. O que interessa é que haja sempre alguém que ore (ri-se). A oração é uma coisa. Mas também existem outras possibilidades de conhecer a fé da sua família e o papel que cada um desempenha na comunidade. Por exemplo, já alguma vez assistiu propositadamente a um serviço divino na comunidade dos seus filhos para os ver a tocar órgão ou a cantar? Ou para ouvir a prédica do seu genro? Não, isso até à data ainda nunca aconteceu. Quando se proporcionar, fá-lo-ei com todo o gosto. Mas, por outro lado, não sinto propriamente dito necessidade de ver como os meus filhos desempenham o seu papel na comunidade. Eu seu quais são as suas tarefas e isso chega. Pelo que percebo, normalmente costuma frequentar os serviços divinos na sua comunidade ou, às vezes, também nas igrejas ou pavilhões para os quais é convidado pelo apóstolo maior ou pelo apóstolo de distrito. Quer dizer que agora as sensações já não são tantas nem tão variadas como antes de estar reformado. Quando no ano passado foi entrevistado pelos jovens de Lübecke, falou com grande entusiasmo sobre as comunidades da Zâmbia. Sente falta, como reformado, destas sensações multiculturais e dos muitos contactos pessoais que tinha com os irmãos e irmãs de fé? São recordações bonitas, que permanecerão para sempre dentro de mim. Tive grandes vivências e presenciei coisas maravilhosas. A comunhão com os irmãos e irmãs de fé foi simplesmente bonita. Mas, a porta fechou-se. A partir do momento em que terminou o tempo ativo isso acabou e eu não estou preso a esses dias e anos nem penso neles com melancolia. Não, não sinto falta deles. Vamos falar de um livro que está á venda na editora Bischoff. O evangelista de distrito Fritz Nicolaus criou um «retrato» seu em 200 páginas: “Nahe zu Gott, nahe zu den Menschen” (Perto de Deus, perto das pessoas). A proximidade que tem com Deus de certeza que não se vai alterar. Mas “perto das pessoas”, isso de certeza que se vai modificar como reformado. Sim, é diferente do que era antes, mas continua a haver contacto, principalmente dentro da minha e com a minha comunidade. Aí existem novas possibilidades de estar perto das pessoas. Conheço as dificuldades, os problemas profissionais, as preocupações devido à falta de saúde, etc.. Poder viver e apoiar neste sentido é muito bonito e enriquecedor. Sobretudo, quando podemos ajudar e orar uns pelos outros. Basicamente pode dizer-se: o que antes estava espalhado pelo mundo e, por isso, era em parte um pouco superficial, agora é local e, por isso, muito mais intenso. Assim sendo, a minha atitude manteve-se, nada mudou: «Perto de Deus, perto das pessoas.» Nesse livro podemos ler que, além de outras coisas, “saltou” dois anos no liceu, que estudou em Frankfurt e no Canadá, depois fez o doutoramento e, mais tarde, já como bispo, estava quase a assumir um encargo no Conselho Diretivo de uma companhia de seguros. Mas, depois soube que iria receber o ministério de apóstolo – e aí terminou a sua carreira profissional. No decorrer de todos estes anos alguma vez desejou voltar a ter a sua antiga profissão? Alguma vez deparou consigo a pensar: onde é que eu estaria agora se tivesse continuado a minha carreira como matemático? Penso que seja normal essas perguntas surgirem mais cedo ou mais tarde. Por exemplo: na altura eu tinha um funcionário, que hoje é presidente do Conselho Administrativo de todo o grupo segurador no qual eu antes trabalhava. Quando ouvi isso pensei espontaneamente: provavelmente eu também teria conseguido alcançar esse lugar. Mas isso não foi uma lamentação! Assumi a tarefa como ministro de toda a minha alma, com todo o empenho e fiz o melhor que pude. E as bonitas vivências que tive foram algo que na vida profissional teria sido impensável vivenciar, nem por perto. Se tivesse optado por uma carreira de executivo possivelmente ainda não estaria hoje reformado. Existe uma outra pessoa que – considerando os antecedentes históricos – ainda hoje não estaria aposentada: o Papa Bento XVI. Durante o seu tempo de atividade ministerial tentou ter uma entrevista com ele, mas sem sucesso. Não seria possível entrarem agora em contacto uma vez que estão os dois aposentados? (Ri-se) por mim, certamente que seria possível, mas a Igreja Católica tem outras dimensões e uma organização diferente, de forma que, este tipo de coisas seria logo analisado do ponto de vista político, por isso têm de ser considerados sempre muitos aspetos envolventes. Penso que seja essa a razão pela qual não é permitido a qualquer um o acesso, o que eu compreendo. Mas, se se proporcionasse, teria grande interesse em me reunir com ele. Mas penso que será muito improvável. O próximo grande encontro de apóstolos no âmbito da igreja – portanto também dos aposentados – terá lugar em Munique, em 2014, no Dia Internacional da Igreja e no dia de Pentecostes. Nessa altura, estará completamente aposentado ou assumirá algumas tarefas como, por exemplo, uma palestra ou um debate? Na verdade é algo que está a ser considerado. E eu não tenho nada do contra em colaborar. O facto de estar aposentado para mim não significa que não assuma mais tarefas. Se fizer sentido e se assim o desejarem continuo a colaborar com grande satisfação. O Dia da Igreja de 2014 está sob o lema: «Eis que o reino de Deus está entre vós». Também tem um lema para a sua aposentadoria? Não tenho nenhum lema especial para a minha aposentadoria. Houve certas palavras que sempre me acompanharam no meu tempo como ministro ativo e continuam a acompanhar-me agora que estou reformado, como, por exemplo. «Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento». (Provérbios 3,5) ou: «Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem» (Aos Romanos 12,21). Entrevista: Björn Renz Fotos: Marcel Bock
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