No fim do evangelho segundo S. Marcos, lemos o seguinte: «Finalmente, apareceu aos onze [o ressuscitado], estando eles assentados juntamente, e lançou-lhes em rosto a sua incredulidade e dureza de coração, por não haverem crido nos que o tinham visto já ressuscitado» (vide Mc 16).
Ou seja, aqui havia algum ceticismo, mesmo entre os onze apóstolos, eles não conseguiram abranger de imediato toda a complexidade do acontecimento. Depois da Sua ressurreição na segunda-feira de Páscoa, o Senhor apareceu a Maria Madalena e depois «manifestou-se noutra forma a dois deles, que iam de caminho para o campo» – como Marcos o relata. Foram aqueles que viram o Senhor e em quem os onze não quiseram acreditar. Mesmo assim, o Senhor não rejeitou os apóstolos, não hesitou face à descrença deles e à sua dureza de coração, pôs tudo de parte e incumbiu-os da Grande Comissão: «ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura» – uma missão que continua em vigor até hoje.
É possível que surjam pensamentos de dúvida e descrença. Não o podemos evitar. Vivemos num mundo que procura fundamentar e abranger tudo por via racional, com o intelecto e a razão humanos. Essa tendência não faz qualquer exceção ao tratar-se de contextos bíblicos, nem tão pouco exclui a ressurreição. Sentimos que existem muitas dúvidas a este respeito, muita coisa é questionada e existe a tentativa de encontrar novas interpretações totalmente diferentes. Este tipo de pensamento também chega a nós. Nós não queremos sequer hesitar, perdendo tempo ao pensar como é que os outros o poderão ver. Mas vivemos neste mundo e certamente já alguma vez tivemos o pensamento se o Senhor hoje em dia realmente se manifestará ou não através da Sua palavra. O Senhor sabe destes pensamentos! Mas Ele anula-os com a Sua palavra. Ele não olha para as nossas fraquezas e as nossas imperfeições, mesmo que haja pensamentos de dúvida. O Senhor não julga ninguém, Ele quer dar-nos a força para o conseguirmos vencer e sabermos lidar com isso.
Quem é nunca terá tido pensamentos de dúvida? Talvez não ao ponto de uma dúvida elementar, de por em dúvida tudo o que o Senhor fez. Mas antes no sentido de surgir, de vez em quando, uma ou outra pergunta que nos leva a rogar: “Amado Deus, será mesmo que tudo tenha de ser assim, que tudo tenha de ser vivido desta forma?” Como é que se lida com este tipo de pensamento? Permitindo que estas dúvidas continuem a corroer o nosso interior? Deixando que estes pensamentos se firmem dentro do nosso coração? Propagando estes pensamentos e procurando confirmação nestas dúvidas? Isso seria perigoso!
Mas se dissermos: “Amado Deus, dá-me força para que eu consiga lidar com tudo isto!” Então o Senhor atenderá estas preces e nos dará a coragem necessária.
Queremos dirigir o nosso olhar para a frente, mantendo a plena convicção: o Senhor vem! Ele também preparará para nós um dia no qual poderemos presenciar a ressurreição.
(Excerto de um serviço divino do apóstolo maior)
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