Alemanha Ocidental/Angola. O apóstolo de distrito aposentado Armin Brinkmann sobreviveu, apenas com alguns ferimentos leves, a um acidente de viação grave, que ocorreu há 25 anos em Angola, no qual morreram cinco acompanhantes e outros cinco ficaram gravemente feridos. Este acidente não foi o único acontecimento grave das suas viagens aos países assistidos pela Renânia do Norte-Vestefália. Numa entrevista o apóstolo relata sobre as suas vivências.
Apóstolo de distrito Brinkmann, o acidente do dia 13 de setembro de 1997 foi um choque para si, para os fiéis em Angola e para muitos membros da igreja no mundo inteiro. Como viveu esta experiência?
Acidentes acontecem, mas aquele foi, sem dúvida, um acidente grave. Cinco mortos, cinco feridos graves, dois feridos leves– o apóstolo Manuel Eduardo Mbuta e eu. Estávamos de regresso de uma reunião de ministros e de jovens, quando o condutor do nosso Jipe perdeu o controlo do veículo numa curva à esquerda. O Jipe capotou e os passageiros sentados nos bancos laterais atrás, foram projetados para fora pelas forças centrífugas e morreram ou ficaram gravemente feridos.
Sabe-se qual foi a causa?
A causa foi provavelmente um parafuso partido no sistema de direção.
Como era a assistência médica num país como Angola naquela altura?
O acidente aconteceu a cerca de 25 quilómetros da cidade de Lubango. A polícia apareceu, depois de longas discussões os mortos foram colocados na superfície de carga do Jipe da polícia, por cima dos corpos os feridos graves e eu fui autorizado a sentar-me num banco.
Naquela altura, a assistência médica no hospital local era uma catástrofe e consistia em alguns comprimidos de aspirina. Eu estava a sangrar de vários ferimentos e não sabia se se tratava só do meu sangue ou do sangue de outra pessoa. Deram-me um pano, mas não me podia limpar com ele porque estava completamente sujo. A estação dos cuidados intensivos estava fechada de noite, os médicos e os enfermeiros iam para casa. Nós decidimos então organizar uma assistência prestada por membros da comunidade.
Que recordações tem dos falecidos?
Conhecia muito bem tanto os que morreram como os que sobreviveram, eramos irmãos e irmãs, amigas e amigos. O apóstolo Dominique Makindu era irmão do primeiro subdiácono selado em Angola pelo apóstolo Gottfried Schwarzer (Canadá, 1927-1996) e trabalhava no extremo norte do país. O apóstolo Miguel Jadó estava sempre alegre, era um verdadeiro motivador e construiu e dirigiu o grande distrito de Uíge no Norte. O apóstolo Chicomba Rocha Tomás trabalhava no leste do país e era fiel na fé e muito íntegro.
Não podemos esquecer a esposa do apóstolo Mbuta que era um grande apoio no trabalho das „Mamãs“, as mães organizadas nas comunidades. Sem as nossas irmãs de fé, o trabalho em Angola não teria sido possível. Jacky Mbuta fez grandes progressos neste trabalho até à sua morte. O evangelista de distrito Ndofunso Toko, que morreu nos meus braços, era um assistente pastoral fiel, humilde e amoroso.
Para a igreja, o acidente também trouxe novos desafios: a estrutura organizacional da Igreja na região, que tinha sido construída com tanto esforço, foi subitamente destruída e teve de ser reconstruída nos anos seguintes.
Mas este acidente não foi o único que viveu nas suas muitas viagens?
Em 1989 também houve um incidente dramático. No regresso de uma viagem ao norte de Angola, no dia 27 de agosto, numa brilhante e bela tarde de domingo, um grupo de rebeldes abriu fogo contra nós com metralhadoras. Eu estava a conduzir o veículo todo-o-terreno, o jovem apóstolo Sukami Landu Ronsard foi gravemente atingido e morreu alguns minutos depois. Eu fui atingido por uma bala de raspão, sangrei muito, mas ainda consegui conduzir o veículo por mais 30 minutos até à aldeia seguinte, Camabatela, onde havia uma igreja católica. Aí fomos tratados de forma exemplar pelas freiras. No dia seguinte segui com o corpo do apóstolo, no carro sem janelas, só com o vidro da frente, para a capital, Luanda. A dor da família e dos fiéis foi avassaladora.
Ainda aconteceram muitas outras coisas, mas não de forma tão dramática.
Como lidou com estes acontecimentos? Não se coloca a questão de qual é o sentido em tais situações?
Experiências como o ataque ou o acidente provocaram em mim reações diversas. Primeiro perguntei: amado Deus, o que é isto? Não estou aqui por prazer, mas por ti e pela tua obra. A seguir senti gratidão por ter sobrevivido a tudo isto e poder permanecer junto da minha família. Depois é importante olhar em frente e prosseguir. Ainda consigo recapitular e contar os acontecimentos daquela altura ao pormenor, mas já não me sobrecarregam, embora ainda sinta as consequências do acidente. Está tudo nas mãos de Deus e na Sua permissão.
Até que ponto ainda hoje são perigosas as viagens para esses países?
Não viajo para esses países desde 2014, mas acidentes como o acidente fatal do Apóstolo Capote Marcos Misselo, em 2019, mostram que viajar em muitos desses países é muito mais perigoso do que aqui na Europa. Muitas estradas não são pavimentadas e estão cheias de buracos, é noite escura, os pontos problemáticos raramente são assinalados. Foi o que aconteceu com o carro do apóstolo Misselo que bateu num camião carregado de madeira que se encontrava parado, com o pneu furado e sem iluminação a seguir a uma curva. Os condutores devem manter-se altamente concentrados. O pedido pela proteção angelical nas viagens dos apóstolos e dos assistentes pastorais continua a ser muito importante.
Como é que lida um assistente pastoral com os riscos quando vai para tais viagens?
Na verdade, é como nos últimos anos na pandemia de corona: com oração, fé e confiança em Deus. O medo faz pouco sentido e é um mau companheiro para a vida e para as viagens. No final, tudo está nas mãos de Deus.
O apóstolo do distrito Armin Brinkmann liderou a Igreja Nova Apostólica da Renânia do Norte-Vestefália, como Presidente da Igreja, de 2005 a 2014. Na altura da sua aposentadoria, ele era um dos apóstolos com mais tempo de serviço no mundo. Foi ordenado apóstolo no Pentecostes de 1983, em Hamburg, com 34 anos. Nos anos seguintes, esteve intensamente envolvido na fundação e desenvolvimento de comunidades novas-apostólicas em países europeus e não europeus, por exemplo, no Extremo Oriente da Rússia, Brasil, Angola, Singapura, e São Tomé e Príncipe. Durante este período, empreendeu mais de 400 viagens intercontinentais. Foi aposentado a 23 de fevereiro de 2014, num serviço divino na “Westfalenhalle” em Dortmund. Em 2021, o apóstolo e.d. Armin Brinkmann e a sua esposa Brigitte festejaram as bodas de ouro.
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